sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Ana nº3

Enquanto Ana dormi ali tão linda Beto a olhava lembrando de como tudo começou, sentiu então o cheiro de seu cabelo e tudo o que vinha em sua cabeça era o dia que a viu num bar meio fuleiro ou hipster que brotava pela cidade como os prédios que surgiram do nada e tão rápido.
Ele estava com uns amigos tomando cerveja, numa sexta a noite e um calor infernal que só existe em São Paulo já ela estava sentada no balcão, parecia jogar papo fora com uma amiga já mais para lá do que para cá, dessa distância pode perceber que ela tinha o hábito de bater as unhas em uma sequência do mindinho até o dedão no balcão enquanto esperava a bebida e que quando ela ria costumava jogar o corpo para trás, achou que ela fosse cair daquele banco logo logo mas não caiu.
Na roda de amigos alguém falava do patrão chato ou contava a história triste de Carlos que havia casado e estava proibido de sair com eles. Beto não ligava para nada daquilo, bebia uma cerveja atrás da outra e pensava em como chegar naquela garota, usou como desculpa uma ida ao banheiro aproveitando assim para passar bem perto de Ana e ao fazer isso se sentiu um babaca.
Já Ana sentada no banco tomando uma vodka misturada com qualquer porcaria conversava com Laura sobre homens, ria lembrando de todos os seus ex e todos os babacas que já havia conhecido até ali o que a fazia rir desesperadamente, lembrou de quando terminou com Jorge e jogou seu perfume em todas as coisas dele antes de devolver, já sua amiga que era bem mais tranquila falava de todas as vezes em que Cássio havia lhe mandado flores porque tinha esquecido o aniversário de namoro mesmo após seis anos.
Foi quando Beto passou tão perto de Ana que ela quase sentiu seu cabelo ir junto, não achou aquele cara um deus grego mas era atraente, sua amiga comentou mais que depressa que o cara fazia o tipo dela com a barba por fazer e o cabelo de quem acabou de acordar.
Quando ele voltou para o seu lugar desta fez passando mais longe de onde ela estava sentada, pois se sentia um idiota porém pode ver quando ela olhou para baixo e deu um sorriso de canto. Foi então que ela já meio bêbada decidiu fazer algo, ao contrário do que Beto pretendia fazer foi ela quem deu o primeiro passo ao pegar um guardanapo e escrever seu número de celular e o nome com o batom vinho que estava na bolsa só para assim parecer mais sexy.
Como ela já estava de saída do bar levantou meio cambaleando e sua amiga veio ao lado querendo morrer de rir antes mesmo da missão ser completada... Ana então foi em direção a mesa de Beto e deixou o papel ali na frente dele e sorriu saindo assim sem falar absolutamente nada enquanto ele ficou olhando aquele papel com a cor do batom dela já meio borrado sem reação alguma. Seus amigos todos mudos e Laura apertando o passo para alcançá-la, ao sair do bar riram uns quinze minutos lembrando daquilo no carro, mas essa parte Beto já não sabia...
Tento essa lembrança maravilhosa Beto levantou e começou a se vestir quase que na ponta do pé, não queria acordá-la afinal sabia o que aconteceria ele então lhe deu um beijo na testa e saiu quieto pela porta do apartamento, desceu o elevador e só pensava nela, deu um sorriso para o vigia do prédio que abriu o portão e então seguiu pela rua com a música deles na cabeça com o sorriso estampado no rosto enquanto a essas horas Ana sofria angustiada na beira da cama ou tomando o café mais forte que aguentava tomar tentando acordar daquele pesadelo.
Beto ia para casa lembrando do dia que entrou no bar e viu ela ali sentada e então algo o atingiu e lhe tirou o sorriso, lembrou o quanto ela havia mudado no último ano, do quanto gostaria de estar perto mas ela não permitia e ele não conseguia mais vê-la chorando, se ele pudesse fazer algo ou se tivesse a jogado a força no carro aquele dia, depois do ocorrido ele ligou para ela várias vezes e não entendia o motivo dela não atender porém considerou normal, no segundo dia decidiu ir ver e encontrou o apartamento de Ana num escuro total, com coisas quebradas, sapatos jogados, os livros da prateleira tudo no chão rasgado. Achou por um segundo que a casa havia sido roubada e entrou desesperado para o quarto dela e ouviu um barulho vindo do banheiro, foi quando a encontrou ali sentada debaixo do chuveiro, nua e para variar tudo revirado novamente ela então o olhou e ele pode ver seu rosto levemente machucado entrou junto com ela e ainda de roupa e ficou sentado ao lado dela quis perguntar mas achou que ainda não parecia ser a hora, após algumas horas ela ainda muda se levantou e foi para cama ainda molhada e ele ficou ao lado dela sem entender nada.
Quando ela conseguiu falar sem dar o menor detalhe ele não soube o que fazer, o que pensar e foi então que a vida alegre ao lado de Ana virou um tempo difícil em que nada a fazia sorrir, lembrou-se quantas vezes a viu sentada na sala bebendo algo com o olhar longe e o olho marejado, nesses dias ele ia direto para o quarto e ela nem notava a presença dele, com o tempo essa cena ficou cada dia mais e mais comum, até que ele começava a nem entrar no apartamento apenas abria a porta devagar e a via assim dando então meia volta, nesses dias ele costumava ficar sentado do lado de fora e depois de alguns minutos chorando por ela ia embora. Começou uma época em que ele nem ia mais até que tomou a decisão de ir viajar, tentou de tudo quanto era forma convencer Ana mas ela nem ao supermercado queria ir direito quem dirá viajar, foi sozinho e retornará na noite anterior e a primeira pessoa que quis ver foi ela na esperança que algo tivesse mudado, que ela tivesse de alguma forma esquecido e enfim estivesse mais feliz como no começo mas de nada adiantou. Cansado então de pensar em tudo isso e notando que estava andando pelas ruas erradas ele então sentou na calçada e ficou olhando o Sol, como ainda era de manhã a cidade estava fresca e ele pode sentir o cheiro dela em sua camisa, sorriu novamente e na sua cabeça tocava "Time of the season" que era a música deles...

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